sábado, janeiro 31, 2009

a Carta da Terra


Divulgo a Carta da Terra.
http://www.cartadaterra.com.br


É uma declaração de príncípios fundamentais para a construção de uma sociedade global no século XXI (justa, sustebtével e pacífica).
É para relembrar-nos sobre a
interdependência global de nossa enorme família humana. Segue abaixo a versão final, aprovada pela comissão da Carta da Terra (comitê formado em 1997), em março do ano 200o, em Paris.









A Carta da Terra -Versão Integral


PREÂMBULO

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que, nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.


Terra, Nosso Lar
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.
A Situação Global
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e é causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

Desafios Para o Futuro
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano é primariamente ser mais, não, ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios, ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes.

Responsabilidade Universal
Para realizar estas aspirações devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com nossa comunidade local. Somos ao mesmo tempo cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual, a dimensão local e global estão ligadas. Cada um comparte responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem estar da família humana e do grande mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo presente da vida, e com humildade considerando o lugar que ocupa o ser humano na natureza.
Necessitamos com urgência de uma visão de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à emergente comunidade mundial. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando um modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas de negócios, governos, e instituições transnacionais será guiada e avaliada.

PRINCÍPIOS

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA
1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.
a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor, independentemente do uso humano.
b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.
2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.
a. Aceitar que com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger o direito das pessoas.
b. Afirmar que, o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder comporta responsabilidade na promoção do bem comum.
3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.
a. Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e dar a cada a oportunidade de realizar seu pleno potencial.
b. Promover a justiça econômica propiciando a todos a consecução de uma subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.
4. Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.
a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras.
b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem, a longo termo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.
Para poder cumprir estes quatro extensos compromissos, é necessário:

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA
5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.
a. Adotar planos e regulações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.
b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.
c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas em perigo.
d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que causem dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses organismos daninhos.
e. Manejar o uso de recursos renováveis como a água, solo, produtos florestais e a vida marinha com maneiras que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a sanidade dos ecossistemas.
f. Manejar a extração e uso de recursos não renováveis como minerais e combustíveis fósseis de forma que diminua a exaustão e não cause sério dano ambiental.
6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e quando o conhecimento for limitado, tomar o caminho da prudência.
a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos ambientais mesmo quando a informação científica seja incompleta ou não conclusiva.
b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmam que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano ambiental.
c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas conseqüências humanas globais, cumulativas, de longo termo, indiretas e de longa distância.
d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.
e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.
7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.
a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.
b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos recursos energéticos renováveis como a energia solar e do vento.
c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de tecnologias ambientais saudáveis.
d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e habilitar aos consumidores identificar produtos que satisfaçam as mais altas normas sociais e ambientais.
e. Garantir acesso universal ao cuidado da saúde que fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável.
f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e o suficiente material num mundo finito.
8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e uma ampla aplicação do conhecimento adquirido.
a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.
b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar humano.
c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio público.

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA
9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social, econômico e ambiental.
a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e internacionais requeridos.
b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma subsistência sustentável, e dar seguro social [médico] e segurança coletiva a todos aqueles que não são capazes de manter-se a si mesmos.
c. Reconhecer ao ignorado, proteger o vulnerável, servir àqueles que sofrem, e permitir-lhes desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.
10. Garantir que as atividades econômicas e instituições em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.
a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro e entre nações.
b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e aliviar as dívidas internacionais onerosas.
c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos sustentáveis, a proteção ambiental e normas laborais progressistas.
d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas conseqüências de suas atividades.
11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, ao cuidado da saúde e às oportunidades econômicas.
a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência contra elas.
b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural como parceiros plenos e paritários, tomadores de decisão, líderes e beneficiários.
c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a criação amorosa de todos os membros da família.
12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, dando especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.
a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas na raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.
b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.
c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os para cumprir seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.
d. Proteger e restaurar lugares notáveis, de significado cultural e espiritual.

IV.DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ
13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, a participação inclusiva na tomada de decisões e no acesso à justiça.
a. Defender o direito a todas as pessoas de receber informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que poderiam afetá-las ou nos quais tivessem interesse.
b. Apoiar sociedades locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações na toma de decisões.
c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia pacífica, de associação e de oposição [ou discordância].
d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais independentes, incluindo mediação e retificação dos danos ambientais e da ameaça de tais danos.
e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.
f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes e designar responsabilidades ambientais a nível governamental onde possam ser cumpridas mais efetivamente.
14. Integrar na educação formal e aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.
a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e a jovens, oportunidades educativas que possibilite contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.
b. Promover a contribuição das artes e humanidades assim como das ciências na educação sustentável.
c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massas no sentido de aumentar a conscientização dos desafios ecológicos e sociais.
d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência sustentável.
15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.
a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e diminuir seus sofrimentos.
b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento externo, prolongado o evitável.
16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.
a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações.
b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.
c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura não-provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica.
d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em massa.
e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico mantenha a proteção ambiental e a paz.
f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual somos parte.

O CAMINHO ADIANTE
Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.
Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca iminente e conjunta por verdade e sabedoria.
A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva.
Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao desenvolvimento.
Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida. www.cartadaterra.com.br

O que é a Carta da Terra? http://www.fundacentro.gov.br/dominios/CTN/anexos/CARTAdaTERRA.pdf

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Etnobotânica e as plantas medicinais

"Como a Terra não pode ficar nas mãos de uns poucos latifundiários os saberes tem de dar o seu sabor a todos" Esther Pillar Grossi

"matrizeiro" de Plantas Medicinais do IAC - Campinas


Recentemente, as idéias, proposições e iniciativas com relação à conservação dos recursos naturais vêm mudando, incorporando termos como sustentabilidade e conhecimento tradicional, termos que remetem à Etnobiologia e Etnoecologia, áreas de estudos recentes no Brasil (Site da SBEE - Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia - www.etnobiologia.org/sbee/home/index.php).
Definidas como estudos das
interações das pessoas com seu ambiente, em enfoques diversos e abrangentes, são entendidas hoje com fundamentais no estabelecimento de propostas de desenvolvimento sustentável. Um dos objetivos dessa ciência tem sido o de associar os conhecimentos das ciências naturais e sociais, procurando captar toda a gama de conhecimento, classificação e uso dos recursos naturais e seus ambientes, oriundos de sociedades tradicionais e indígenas (Posey,
D.A. Etnobiologia y ciencia “folk”: su importancia para la Amazonia. Hombre y Ambiente, v.1, p. 7-26. 1987.).


Em Botucatu, na Faculdade de Ciências Agronômicas (www.fca.unesp.br) o Prof. Dr. Lin Chau Ming foi o pesquisador responsável para a inserção dessa ciência no currículo acadêmico, desenvolvendo diversos trabalhos com comunidades tradicionais do PETAR - Parque Estadual e Turístico do Alto do Ribeira, na região de Iporanga e também na região amazônica. A etnobotânica está diretamente ligada com o conhecimento das plantas medicinais, já que compreender o conhecimento da população sobre o uso das plantas é o grande objetivo desta ciência.



Por exemlpo, já parou para pensar em como o bicho homem sabe que a Espinheira-santa - Maytenus ilicifolia, é utilizada para para gastrites e demais doenças de estomago (Santo espinho!!)?? Estudos com pesquisadores testando todas as plantas que existem, uma por uma? Será que é assim, simplesmente? O institnto ainda existe no homem e é utilizando desse sentido que o conhecimento tradicional norteia que a (monstruosa) industria de medicamentos , para as elaboração de tantos e tantos remédios.

Espinheira Santa

Na etnobotânica o conhecimento dos índios é muito estudado, sendo uma verdadeira forma de preservar a extinção do conhecimento dessa "espécie".

De 27 de janeiro à 1 de fevereiro está ocorrendo, em plena Floresta Amazônica o Fórum social Mundial (www.forumsocialmundial.org.br), nas Universidades Federal do Pará - UFPA(www.ufpa.br) e Universidade Federal Rural da Amazonia - UFRA( http://www.ufra.edu.br) e com certeza está sendo um momento muito importânte de trocas de militantes, agricultores, pesquisadores, políticos e estudantes com os índios de lá. A Folha de São Paulo divulgou um projeto que está sendo realizado pela Rede de Indios Online, durante o Fórum, que ensinou indios a usarem celulares para produzir videos e fotografias. O resultado pode ser conferido em www.indiosonline.org

Índia (com sua filha) vendendo artesanato na capital Paulista


Muito interessante essa integração com outras linguagens! São os índios se integrando com nossa cultura...E somos nós, da cidade, dependendo deles. Um aprendendo como outro, numa troca constante, respeitosa.

Abaixo segue um artigo (publicado à 13 anos no Jornal da UNESP) a respeito de um dos trabalhos do Prof. Lin, grande amigo de toda uma geração Agroecológica lá de Botucatu (Salve Grupo de Agroecologia Timbó!). Sem ele, acho que a semente da Agroecologia ainda estaria patinando. Atualmente ele está em Nova York (Columbia University http://www.columbia.edu/) terminando mais uma titulação, que de tantas já me perdi!


A medicina da selva

Convivendo com cobras e outros bichos em plena Amazônia, agrônomo de Botucatu identifica e cataloga 161 espécies de plantas medicinais do sul do Acre.

Tomou surucuína, a dor sumiu! Além de não rimar, o slogan não tem nada de original. Mas, para a comunidade da Reserva Extrativista Chico Mendes, no sul do Acre, a exótica frutinha, encontrada em abundância em seus quintais, é solução eficaz contra uma série de males, incluindo os efeitos de veneno de cobra. A suricuíma e outras 160 espécies de plantas consideradas medicinais pelos seringueiros da reserva foram estudadas e catalogadas pelo engenheiro agrônomo Lin Chau Ming , do Departamento de Horticultura da Faculdade de Ciências Agrônomas (FCA) do campus de Botucatu. Versão unespiana de Indiana Jones, desde 1991 Ming passa um mês do ano pesquisando as plantas, morando com os nativos e se submetendo a toda sorte de aventuras. O trabalho faz parte de sua dissertação de doutorado, defendida no final de 1995, no Instituto de Biociência (IB) de Botucatu. Deste trabalho será produzido um livro, em breve publicado e distribuído gratuitamente aos seringueiros, servindo inclusive de guia para os estudiosos do assunto.

Ming, nascido em Taipei, China, chegou ao Brasil com três anos de idade. Fascinado desde jovem por incursões na selva, visitou o Acre pela primeira vez em 1988. "A região é riquíssima em espécies animais e vegetais, mas pouco pesquisada", comenta. "Isso me motivou a estudar as plantas medicinais típicas." Há cinco anos conseguiu uma bolsa de pesquisa patrocinada pala Universidade Federal do Acre e pelo Jardim Botânico de Nova York. Com a verba garantida, sua primeira missão foi ganhar a confiança dos nativos que, segundo ele, "olhavam torto para um chinês patrocinado por uma entidade americana". Com o tempo, porém, os moradores locais, além de guias, passaram a ser parceiros de pesquisa e companheiros de aventuras.

Nova cultura

A reserva Chico Mendes, escolhida por Ming como campo de pesquisa, tem uma área de 975 mil hectares, cerca de seis vezes e meio o tamanho do município de São Paulo. Estima-se que 95% do território se mantenha praticamente intacto. Lá moram três mil famílias, que vivem basicamente da extração de borracha e da coleta da castanha-do-Pará. A maioria delas descende de nordestinos fugitivos da seca do início do século, que, em fusão com os costumes de caboclos e índios, criaram uma nova cultura. Neste aspecto, as plantas medicinais catalogadas por Ming e encontradas em abundância no local são exemplos da influência destes imigrantes: um terço delas foram trazidas de outras regiões do país.

Para seu levantamento, Ming conversou com 53 seringueiros de toda a reserva, lá estabelecidos há mais de 25 anos, que mostravam as plantas e descreviam sua utilização. Cada espécie era catalogada, desidratada e depois cuidadosamente estudada. Duplicatas de todo o material coletado foram enviadas para os herbários da UFAC, do Jardim Botânico de Nova Yorque e do IB. O exemplar mandado para os Estados Unidos, de acordo com o contrato do convênio, era pulverizado com produto tóxico, para que não pudesse ser posteriormente reproduzido em laboratório.

Além da catalogação e da indentificação botânica, Ming estudou todos os usos medicinais que os seringueiros faziam das plantas. Segundo seus registros, a maior parte das 37 espécies catalogadas é indicada para doenças do aparelho respiratório, como gripe, asma e bronquite. São seguidas pelas doenças dermatológicas, pelo grupo das dores de cabeça e febre, e pelos males de fígado, baço e rins. "Na maioria das enfermidades, o seringueiro combina mais de uma planta, em forma de chás, pós, pastas, fumaça ou pela própria ingestão in natura", conta. A diarréia, por exemplo, é tratada com um chá que combina erva-cidreira, olho-goiaba e sal; para hepatite, a indicação é uma infusão de tiririca, raiz de sapé e folha de capeba; a malária pode ser tratada com o chá de quina-quina. Também foi estudada a utilização de outros componentes junto com plantas nos medicamentos, como presa de porco selvagem, pena de pássaro e casca de ovo.

Diário de bordo

quina.GIF (4006 bytes)A vida de Ming no ambiente selvagem não se resumiu apenas ao levantamento de dados para sua pesquisa. Longas viagens de barco, ataque de insetos e de bichos ferozes e até a degustação pouco convencional - o cardápio inclui, entre as iguarias, carne de macaco - fizeram parte de seu diário de bordo. Testemunhou pessoas envenenadas por cobras serem curadas com plantas. Pegou doenças e foi tratado na própria reserva. "Tive , enfim, uma prova pessoal da eficácia dessa medicina alternativa." Ming evitou, porém, descrever receitas do uso de plantas medicinais. O pesquisador evitou discriminar a proporção exata de cada planta nos remédios. "Esse é um trabalho da área farmacológica e foge ao meu conhecimento", justifica.

A publicação de um livro foi o meio encontrado por Ming para proteger, de alguma forma, a propriedade intelectual dos seringueiros sobre o uso das plantas medicinais. "Queria evitar a exploração comercial de indústrias farmacêuticas sem que houvesse compensação para os nativos", comenta. Além disso, ficaria mais fácil difundir as informações sobre as plantas para todos os moradores da reserva, distante de hospitais e farmácias comuns. "A região é imensa e as pessoas acabam não conhecendo todas as espécies e suas utilidades", justifica.

Esse livro, redigido em parceria com dois seringueiros, Virgílio Padilha dos Santos e Paulo Gaudêncio, considerados pela comunidade como os papas no assunto, poderá ser fornecido a estudiosos e centros de pesquisa. Com relação a trabalhos futuros, Ming coordenará a parte medicinal de um projeto da Fundo do Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que pretende estudar a flora do Estado. "Paralelamente a esta pesquisa, trabalharei com os alunos da UNESP estudando as plantas medicinais existentes na região de Botucatu", planeja.

Rogério Silveira e Waltair Martão

Texto extraído pelos professores César, Sezar e Bedaque
do Jornal da UNESP n.º 107, de outubro de 96 do site www.editorasaraiva.com.br
seg. ed:
Ver Artigo técnico sobre o cultivo de Medicinais, do site: info Bio (informativo) sobre

terça-feira, janeiro 27, 2009

A importância das Redes


As Redes...

Rede (do latim rete, is = "rede ou teia"), orginariamente exibe o significado de conjunto entrelaçado de fios, cordas, cordéis, arames, etc.

Elas são fantásticas!

Existem vários tipos delas...:Tem as que descansamos nosso corpo; tem as que buscam o peixe para ser oferecido como alimento...e Tem a grande rede que intercomunica o mundo, a internet...

Esta rede, específicamente muito desperta minha atenção. E mais recentemente venho percebendo o quanto ela é um instrumento real para facilitar a comunicação entre pessoas do mundo todo, e por isso, procuro usufruí-la ao máximo que me for possível.

O “entrevistado da segunda” (26, janeiro, 2009) da Folha de SP, Dom Tapscoot, é pioneiro digital e fala da “Geração Digital”. Pessoas nascidas a partir da segunda metade da década de 80, para quem os avanços tecnológicos são uma realidade e não uma conquista. Tapscott fala que os “digitais” representam um desafio para todas as instituições. Para o governo, são desafio como consumidores dos serviços, mas também como cidadãos que querem se envolver no processo democrático. Como consumidores são muito mais exigentes que seus pais e estão acostumados a um serviço rápido e personalizado. Como empregados, seu instinto contraria práticas tradicionais do ambiente de trabalho. Fala que podem ser mais atentos e acelerar seu processamento de informação visual.

Faço parte desta geração. Sou de 82 e em minha adolescência passava madrugadas a fio navegando pela internet. (literalmente, gastando os “impulsos” do da conta de telefone do meu pai). Não por acaso criei esse blog.


À tempos penso nas Redes de maneira geral.

Lá em Botucatu participei da Rede Social Tear (http://redesocialblogs.com.br/redesocialbotucatu/), composta por diversas instituições (dentre elas asilos, entidades para deficientes, Senac, ongs, etc). Organizamos dois fóruns para debater o desenvolvimento local e sustentável. Num deles, a temática das redes esteve muito presente e esses princípios foram se ampliando em mim. As redes sociais, as redes de conhecimento!

Participo de alguns grupos de discussão na net, ligados à Agroecologia (novaterbrasil@yahoogrupos.com.br; agroecologiatimbo@yahoogrupos.com.br; rede_apa@yahoogrupos.com.br, cunhambebe@yahoogrupos.com.br) a acredito que eles são ferramentas fantásticas na conjugação do propósito das redes. Canais onde o fluxo de informação é bastante intenso e que muitas vezes nos perdemos em sua real utilidade. Mas enfim, são sempre meios de se disseminar sementes entre pessoas conectadas no mesmo ideal.

Articulações e organizações sociais são fundamentais para a proposta da Agroecologia. Temos a Articulação Nacional de Agroecologia - ANA, que organiza o Encontro Nacional de Agroecologia - ENA. Tive a oportunidade de participar do ultimo encontro realizado em Recife, em 2006 e pude tomar conhecimento das diversas redes Agroecológicas existentes em nosso pais. Em cada Estado existem as suas articulações regionais, muitas espalhadas nos mais distantes vilarejos, nos mais variados biomas. Aqui em São Paulo, temos também a Articulação Paulista de Agroecologia. Todas essas redes as vezes se desconectam por tempos, mas acredito ser natural, já que os ciclos são sempre dinâmicos. No momento adequado tudo se reconecta novamente.

Segundo artigo “SOCIEDADE EM REDE: conexões e desconexões”, de Holgonsi Soares Gonçalves Siqueira, a existência social e suas segmentações no mundo pós-moderno, dependem de nossa conexão em uma determinada rede. Existem inúmeras redes e estas por sua vez, resultam de uma rede intrincada de relações. Sejam estas relações de natureza biológica, social, política, econômica, ou tecnológica, as mesmas apresentam algumas características comuns e seu estudo faz parte da chamada "ciência da rede".

O objetivo desta ciência está associada a idéia de ciência pós-moderna, onde estuda-se as relações e não o aprofundamento de partes isoladas. Um mundo em rede é complexo, por isso gera vidas e relações complexas. Na verdade a máxima que acompanha a noção de rede é: "complexidade gera mais complexidade".

No mundo em rede, somos forçados a enfrentar o desafio de re-construir nosso "ser" e "estar no-mundo". Nossa identidade sofre as influências de novos códigos cotidianamente, e a vida como resultado de uma rede de interações de naturezas diversas, é um fluxo que corre numa velocidade sem precedentes num tempoespaço altamente tecnológico.

Muitos elos a se conectar, já que não precisamos ficar reinventando a roda. Basta que saibamos procurar o nossa parceiro, aquele que nos identificamos. E a internet é um brilhante instrumento para encontrarmos algumas dessas respostas. Tanto com os e-mails, orkut, msn, grupos de discussão, sites, blogs e tantas outras coisas. Enfim... é um desafio para muitos..já que para alguns o aprendizado e a linguagem desse canal virtual é ainda um grande desafio. Mas acredito que este seja um obstáculo que nos trás muito conhecimento e aprendizado, já que aqui na Net, diferente da TV, podemos selecionar o que nos é útil com mais objetividade, canalizando nosso tempo para qualquer Rede que quizermos pertencer.

Atividade em grupo no Assentamento Fazenda Pirituba - Itapeva - SP

segunda-feira, janeiro 26, 2009

O dilema do onívoro

O DILEMA DO ONIVORO: O que devemos comer no almoço?
UMA HISTORIA NATURAL DE QUATRO REFEIÇOES

Michael Pollan. Rio de Janeiro: Intrínseca. 2007
Alinhar ao centro
O que devemos comer no almoço? Este livro é uma resposta longa e complexa para esta pergunta aparentemente simples. Ao longo do caminho o autor explica as implicações desta questão, e discute como uma questão tão simples pôde tornar-se tão complicada. As prateleiras de um supermercado, estágio final da cadeia alimentar contemporânea, são o ponto de partida escolhido pelo autor para começar a responder esta questão. O leitor é convidado a seguir o caminho inverso, reconstituindo o trajeto dos alimentos, desde o prato à nossa mesa até a origem de tudo: o solo. Quanto mais longo e intrincado é o percurso que liga as duas pontas dessa cadeia altamente industrializada, mais ignorantes nós nos tornamos a respeito do que estamos comendo.

Por que é cada vez mais complicado decidir o que almoçar? Os alimentos atualmente são vendidos apenas com base em seus benefícios para a saúde: um é capaz de reduzir seu colesterol, outro tem muitas fibras. Os nutrientes tornaram-se mais importantes que a comida em si, e o alimento tornou-se apenas um intermediário na entrega destas substâncias. Assim, escolher o que comer tornou-se uma decisão para profissionais, e não para amadores. Tem-se a impressão de que é necessário ter um diploma de nutrição ou bioquímica para tal escolha!

Afinal, que mistérios estão por trás de uma bolacha industrializada, de um hambúrguer, ou de um simples item de um cardápio de fast-food, como, por exemplo, um McNugget? Para responder a essa e outras perguntas, o autor leva o leitor a explorar, não apenas intelectualmente, mas sensorialmente, todas as implicações - éticas e ecológicas, econômicas e políticas - relacionadas ao ato de se produzir e consumir um alimento. O resultado da investigação é um misto de reportagem, ensaio e depoimento pessoal, numa obra que surpreende ao revelar que a aparente variedade dos modernos supermercados esconde uma alarmante uniformidade imposta pela superprodução industrial. Para chegar a um diagnóstico sobre o que considera a atual desordem alimentar, Michael Pollan investiga três mundos diferentes: o do cultivo e produção de alimentos em escala industrial, o do florescente negócio da agricultura orgânica (analisando o que tem de promissor e de
enganoso), e o mundo ligado à caça e ao extrativismo. Neste último, ensaia uma volta à atividade primeira do Homo sapiens, o onívoro por natureza que todos nós somos.

Observamos que há cada vez mais produtos disponíveis nas prateleiras dos supermercados, criando a impressão de que temos mais tipos de comida disponíveis. Pollan explica que é fato que atualmente podemos encontrar diferentes frutas e vegetais do mundo todo num bom supermercado, muito mais do que encontraríamos cinqüenta anos atrás. Mas, ao analisar as fontes de calorias, nota-se que a nossa dieta está menos diversificada. Mais de dois terços das calorias consumidas diariamente vêm de apenas quatro vegetais cultivados em escala mundial e com grandes interesses econômicos: milho, soja, trigo e arroz. Há um século atrás, havia maior diversidade. Esta aparente diversidade no supermercado obscurece a realidade de que a diversidade de nossa dieta vem encolhendo.
Plantação de arroz em Pindamonhangaba -SP

Alimentos altamente industrializados são hoje a base da "dieta ocidental", que domina os Estados Unidos da América e se espalha pelo mundo. Nos últimos anos, a indústria vem lançando alimentos que supostamente seriam menos nocivos. Pollan denuncia essa manobra de marketing, que explora o medo dos consumidores para vender produtos de valor duvidoso. E lança um manifesto que propõe a volta à alimentação tradicional, orgânica e saudável dos nossos avós. Ele dá dicas de como qualquer um pode se alimentar com "comida de verdade", em vez dos produtos artificiais da indústria alimentícia.

Pela primeira vez na história da humanidade, há mais pessoas obesas do que famintas no mundo. Os acima do peso respondem hoje por 1 bilhão da população mundial, diante de 800 milhões que passam alguma forma de privação na alimentação. As causas principais são más dietas e sedentarismo. Não ficamos fora desta estatística. O Brasil nunca foi tão gordo. Os brasileiros com massa corpórea superior à considerada normal já somam 43 milhões - o equivalente a 43% da população adulta, quase três vezes mais do em meados da década de 1990. Por conseqüência, a quantidade de pessoas em dieta para emagrecer também é enorme: 25% dos homens e 50% das mulheres. É um público propenso a acreditar em regimes que se vendem como capazes de operar metamorfoses na silhueta do dia para a noite, sem prejudicar a saúde.


Verifica-se atualmente uma obsessão em obter os nutrientes corretos, em alimentar-se de maneira saudável, e uma percepção errônea de que basta comer a comida correta que tudo estará bem com você e o mundo todo. Precisamos voltar a nos preocupar em conhecer toda a cadeia produtiva dos alimentos e não ficarmos obcecados com alguns nutrientes. A manutenção da saúde deve ser apenas uma conseqüência, e não o objetivo de comer bem. De forma geral devem ser aplicados cinco princípios éticos para uma escolha consciente na hora das refeições: transparência, equilíbrio, humanidade, responsabilidade social e necessidade.

Há ainda as implicações econômicas e políticas. Este livro é um importante alerta para um Brasil que se pretende transformar numa Arábia Saudita dos biocombustíveis. A afirmação de que não haverá necessidade de desmatamento para a produção e a exportação de grandes quantidades de biodiesel se baseia na avaliação de que grandes áreas de pastagens podem ser convertidas para monoculturas de oleaginosas com um pouco de modernização de nossa agricultura. Nos EUA, são necessárias duas calorias de fertilizantes sintetizados a partir do petróleo para produzir uma caloria de milho. E como o gado bovino é alimentado com milho, quase um barril de petróleo é consumido para cada animal abatido. Os excedentes da produção de milho estão na origem tanto da abundância quanto da obesidade. Os subsídios governamentais são enormes, o alimento industrializado tem preços baixos, mas dão origem aos altos índices de obesidade que custam algo em torno de 90 bilhões de dólares por ano em despesas médicas. Ou esses excedentes atravessam a fronteira do México, onde acabam com os pequenos produtores, aumentando a oferta e reduzido os preços.

Toda uma complexa cadeia de interesses gira em torno da produção de milho, impedindo que cessem os subsídios. A insensatez do agronegócio é objeto de uma análise que revela a importância de saber como se estrutura a indústria dos alimentos que chegam diariamente às nossas mesas. Há ainda a história dos outros três vegetais cultivados em escala mundial.


A industrialização dos alimentos mudou nossa relação com a comida. Como consumidores estamos desorientados, e não sabemos mais de onde vem nossa comida. A cadeia é tão grande que muita criança pensa que a comida vem do supermercado, que o leite vem da caixinha Tetra Pack. Muitas crianças hoje não entendem que a cenoura ou a batata são raízes. A indústria alimentar nos desconectou do fato de que para sobreviver dependemos de outras espécies, com as quais compartilhamos o planeta. Assim, nós entregamos a preparação dos alimentos para empresas de grande escala. Isto pode ser conveniente, porque nos faz ganhar tempo, mas estas empresas não cozinham bem: usam muito sal, gordura e açúcar, e logo a comida se torna altamente calórica e não tão nutritiva.

Em conseqüência nos tornamos mais vulneráveis. Somos vítimas mais fáceis das manipulações dos alimentos fast-food e das propagandas de dietas milagrosas. É uma das razões pela qual temos tantos problemas de saúde relacionados à alimentação. Não confiamos mais em nossas tradições, não sabemos mais como cozinhar. Precisamos tomar de volta a decisão sobre nossas escolhas alimentares e sobre a preparação das refeições. O livro segue por caminhos fascinantes e sua leitura nos faz perguntar se é isso mesmo que queremos para nossa vida.

Credenciais do autor

Escritor e jornalista estadunidense Michael Pollan é colaborador do New York Times Magazine. É professor de jornalismo na University of California, Berkeley, onde dirige o Programa de Jornalismo Científico e Ambiental. É autor de artigos polêmicos sobre a indústria alimentar. Recentemente lançou seu novo livro, In Defense of Food (Em Defesa da Comida), ainda sem tradução no Brasil.

Referências

POLLAN, Michael. O Dilema do Onívoro: Uma história natural de quatro refeições. Rio de Janeiro: Intrínseca. 2007
POLLAN, Michael. The Botany of Desire: A Plant's-Eye View of the World. New York: Random House. 2001.
POLLAN, Michael. The Omnivore's Dilemma: A Natural History of Four Meals. New York: Penguin Press. 2006.
POLLAN, Michael In Defense of Food: An Eater's Manifesto. New York: Penguin Press. 2008

NOTA: Este último livro já está disponível em tradução ao português: Em defesa da Comida.


Resenha por Luciel Henrique de Oliveira
Engenheiro Agrônomo (UFLA, 1987), Mestre em Administração (UFLA, 1992), e Doutor em Administração de Empresas (EAESP/FGV,1998) . Pós-Doutor em Administração, na área de Gestão Estratégica da Inovação Tecnológica e Operacional, (CenPRA - Ministério da Ciência e Tecnologia, 2007). Professor do UNIFAE e da EAESP-FGV. e-mail - luciel@uol.com.br

fotos: rodrigozacca.wordpress.com/page/2/ e vegetariando.blogspot.com

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Nossa cultura alimentar e a China!



A Agroecologia preserva uma discussão que acredito ser de imensa relevância: a cultura alimentar. Em nossa cultura brasileiro-americanizada, estamos perdendo cada dia mais noção das nossas relações com nosso alimento. Bárbara Kingsolver, em seu livro “O mundo é o que você come” (ed. Nova Fronteira, 2007) descreve sobre esse tema dizendo que as Cultura Alimentares concentram a sabedoria coletiva de uma população sobre as plantas e os animais que crescem em um determinado lugar, e as formas complexas de torná-las saborosas. Ela aponta que nos Estados Unidos vêm surgindo alguns sinais de se re-encontrar e/ou re-estabelecer um conjunto de rituais, receitas, éticas e hábitos de compra que nos permitam amar nossa comida e come-la também.

Tais sinais abrangem uma comida mais local, mais saudável e mais sensível, envolvendo desde os adeptos do Slow food à efetiva secretaria de saúde pública; de shows beneficentes em prol de fazendas à programas de merenda escolar. Ela cita que pela primeira vez, o ponto de origem da produção assume novamente importância aos consumidores.Dentre as tradições alimentares mais conhecidas temos a culinária italiana, francesa, tailandesa e a chinesa.


A culinária chinesa...


é uma das mais ricas do todo o mundo. Diferente da culinária ocidental, onde a proteína de carne é o principal, o ingrediente mais importante na comida chinesa é fonte de carboidratos como arroz e talharim. Talvez paradoxalmente, em um banquete chinês tradicional, nenhum arroz deve ser servido.

Cor, aroma e sabor não são os únicos princípios a serem seguidos na cozinha chinesa; é claro que a nutrição vem em primeiro lugar. Uma teoria da "harmonia dos alimentos" pode ser atribuída ao intelectual Yi Yin da dinastia Shang (séc. 16 ao 11 a.C.). Ele relaciona os cinco sabores doce, azedo, amargo, picante e salgado às necessidades nutricionais dos cinco principais sistemas de órgãos do corpo (coração, fígado, baço, pâncreas, pulmões e rins) e enfatiza seu papel na manutenção da boa saúde física. Na realidade, muitas plantas utilizadas na cozinha chinesa tais como alho-poró, gengibre fresco, alho, botões secos de margaridas, cogumelos, etc., têm propriedades de prevenção e alívio de várias doenças. A cultura Chinesa e oriental de maneira geral, tem muitos ensinamentos a nós brasileiros mergulhados na cultura Norte-americana.



Comemoração na China


Nessa época do ano, na China comemora-se o Ano Novo (ano do BOI), que é guiado pelo calendário Lunar. Esse período é um dos mais importantes para a sociedade chinesa, pois eles fazem uma pausa no trabalho para festejar com a família. Os primeiros registros sobre a comemoração do Ano Novo Chinês têm aproximadamente 2.000 anos. Essa tradição foi sendo moldada através de lendas, histórias e hábitos. O rito de passagem de ano tem início semanas antes, os chineses costumam limpar seus lares para afastar os maus espíritos.

No 23º dia do último mês lunar, eles oferecem comida ao Deus da Cozinha, que segundo eles é o responsável pela prosperidade familiar. Também costumam colar nas portas e janelas das casas papéis vermelhos com dizeres de bom agouro em dourado, os Tao Fu, para atrair bons fluídos e proteger quem mora ali. O vermelho e o dourado são as cores oficiais da data, segundo os chineses elas são responsáveis por trazer boa sorte àqueles que as usam, principalmente em roupas novas. Assim como na comemoração ocidental do Ano Novo, os chineses consumam reunir-se em família e produzirem uma mesa farta na noite da véspera do Ano Novo Chinês.


Um pouco de história

(taoísmo)

O Taoísmo e o Confucionismo, consideradas mais filosofias que religiões, estão revivendo uma particular efervescência em uma China abandonada pelos ideais comunistas e entregue alegremente a um capitalismo vazio de espiritualidade.

O caminho do Tao, que em mandarim significa caminho da verdade, foi iniciado por Lao Zi há mais de dois mil anos, e se trata de uma filosofia que enfatiza a compaixão, a moderação e a humildade, valores ideais para tempos de crise.

Além disso, esta filosofia confere muita importância ao equilíbrio com a natureza, à vitalidade, à paz, à inação, à renúncia ao ego, à flexibilidade, à abertura da mente e à espontaneidade.

Com raízes que remontam a crenças quase pré-históricas, o Taoísmo pode ser considerado o primeiro movimento ecologista da História, já que é caracterizado por um profundo respeito à Natureza e, da mesma forma que o Budismo, estabelece uma relação direta entre esta e o ser humano. "Necessitamos manter o equilíbrio no mundo para proteger nosso planeta" para o novo ano (o 4707º no calendário chinês), diz Zhao.

O ano do Boi


Para Ling Wang, consultora de negócios com a China, o Ano do Boi promete ser um ano de trabalho duro e é um período de colocar a casa em ordem. "É o momento de arar os campos e prepará-los para o plantio imediato. Quem mergulhar nas tarefas mais exaustivas, colherá resultados, pois o símbolo deste ano é o da colheita fecunda. Este é o período de sucesso para quem se esforça dedicando atenção ao planejamento e ações agendadas. Espera-se que seja um período de estabilidade e solidez que são características do boi", explica. Ling completa que o signo do Boi representa a prosperidade, paciência e muita vontade de trabalhar.

E..falando em Boi...para uma legítima Taurina, deixo todas minhas reverências e esse animal fabuloso que preenche os espaços degradados de nossos campos. Que muito pode oferecer a nós seres humanos, sem que precisemos sacrificá-lo. Sua calma, e força de vontade se somam com a maravilha do leite da vaca (e seus derivados) e ao seu esterco fabuloso, base do mais fantástico adubo que pode existir. Como não venerar esses bichos, que são dóceis quando bem tratados e que são mansos quando respeitados!


Então...que 2009 seja um ano recheado de sabores, saúde, cultura e com muita prosperidade, paciência e muito trabalho a todos!!!



Site : http://www.sociedadetaoista.com.br/

http://www.portaldekungfu.com/CulturaCulinaria.html

http://ecodesenvolvimento.blogspot.com

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