quarta-feira, maio 08, 2013

O efeito da comida


O efeito da comida
por Lisa Tassi

Hoje em dia o entusiasmo por se cozinhar foi diminuindo na proporção em que os restaurantes foram surgindo. O fato de as mulheres, que antes cuidavam especialmente da alimentação do lar, hoje saírem para trabalhar, também foi significativo para esta mudança de hábitos.

A questão é que sabemos que a alimentação contemporânea, embasada em restaurantes “fast foods” (lanches, pizzas, cachorro quente) e especialmente os “self-service” (onde os sentidos ficam livres para escolher o alimento mais atrativo para o prazer da língua) possibilitam ou induzem a um consumo alimentar pouco equilibrado, muito embora por diversas vezes sejamos iludidos achando que nossas escolhas são as mais saudáveis. No entanto, o aspecto que quero destacar é sobre o valor da energia sutil do alimento.

Sobre isso vou lhes contar uma história retirada do livro infantil A turma do menino Azul no caminho de volta ao lar, de Goura Prestha, que reforçou meus entendimentos sobre o efeito de tudo que como e também me estimulou a cozinhar mais.

 “A Índia estava em guerra, lutando por sua independência. Numa prisão havia vários presos condenados à morte, mas nem todos eram criminosos perigosos. Raghvir era um jovem sensível e educado. Ele, sabendo que lhe restavam poucas semanas de vida, dedicou-se a estudar as Escrituras Sagradas à procura de conforto. Um mestre vinha visita-lo e conversava com ele sobre Krsna e a vida depois da morte. Raghvir sempre recebia o mestre com muita alegria e paciência.

Certo dia, porém, o mestre encontrou o rapaz ansioso e infeliz:

-O que o perturba, meu amável jovem?

-Durante esses últimos três dias, tenho tido pensamentos horríveis. Mais do que pensamentos, são imagens vivas de algo tão terrível! Não sei como elas chegam até mim e não consigo me livrar delas. Dormindo e até mesmo acordado, elas me perseguem.

-Mas que imagens são essas, filho?

-Imagine, mestre, sonho que estou matando uma pessoa. Eu nunca matei ninguém! Vejo a cena do crime com todos os detalhes.

O jovem terminou sua história em soluços. O mestre colocou a mão no ombro dele para acalmá-lo. Depois que Raghvir se acalmou...

-O que você comeu nesses últimos dias? – perguntou o mestre

-O mesmo de sempre – respondeu o jovem. Mas creio que eles tenham trocado de cozinheiro, a comida parece um pouco mais gostosa que antes.

O mestre, deixando Raghvir, foi conversar com o guarda:

-Quem cozinha para os presos?

O guarda sorriu:

-Escolhemos um dos prisioneiros, um excelente cozinheiro. Está aqui porque matou uma pessoa. E contou com detalhes como o crime aconteceu.

Exatamente como a cena que Raghvir tinha visto com os olhos da mente. O mestre sugeriu suavemente:

-Olhe, Raghvir é muito sensível, é um excelente rapaz. Você não pode conseguir uma outra pessoa para fazer sua comida?

Assim fizeram. E Raghvir terminou seus dias em paz. ”

Essa história ilustra que o alimento que consumimos, assim como o seu “modo de preparo”, pode ter consequências inimagináveis, isso sem levar em conta o processo produtivo do mesmo (industrializado, irradiado, envenenado, etc.). A atenção e respeito com a alimentação deve considerar inclusive o provedor do alimento: o agricultor, e indo além dele, Deus.

Desde pequena aprendi com minha mãe a diariamente pedir a benção do Senhor ao alimento que como. Mais tarde, com alguns mestres, aprendi a oferecer a Deus aquilo que Lhe agrada e me alimentar de Seus restos (prasada). Quem se importa e valoriza o que se alimenta deve ficar atento, pois muitas vezes as angustias e ansiedades do dia-a-dia podem ser apenas reflexo daquilo que ingerimos.                                                                                             
 
 

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