O
efeito da comida
por Lisa Tassi
Hoje em dia o entusiasmo por se
cozinhar foi diminuindo na proporção em que os restaurantes foram surgindo. O
fato de as mulheres, que antes cuidavam especialmente da alimentação do lar,
hoje saírem para trabalhar, também foi significativo para esta mudança de
hábitos.
A questão é que sabemos que a
alimentação contemporânea, embasada em restaurantes “fast foods” (lanches,
pizzas, cachorro quente) e especialmente os “self-service” (onde os sentidos
ficam livres para escolher o alimento mais atrativo para o prazer da língua)
possibilitam ou induzem a um consumo alimentar pouco equilibrado, muito embora
por diversas vezes sejamos iludidos achando que nossas escolhas são as mais
saudáveis. No entanto, o aspecto que quero destacar é sobre o valor da energia
sutil do alimento.
Sobre isso vou lhes contar uma
história retirada do livro infantil A turma do menino Azul no caminho de
volta ao lar, de Goura Prestha, que reforçou meus entendimentos sobre o
efeito de tudo que como e também me estimulou a cozinhar mais.
“A Índia estava em guerra, lutando por sua
independência. Numa prisão havia vários presos condenados à morte, mas nem
todos eram criminosos perigosos. Raghvir era um jovem sensível e educado. Ele,
sabendo que lhe restavam poucas semanas de vida, dedicou-se a estudar as
Escrituras Sagradas à procura de conforto. Um mestre vinha visita-lo e conversava
com ele sobre Krsna e a vida depois da morte. Raghvir sempre recebia o mestre
com muita alegria e paciência.
Certo dia, porém, o mestre
encontrou o rapaz ansioso e infeliz:
-O que o perturba, meu amável
jovem?
-Durante esses últimos três dias,
tenho tido pensamentos horríveis. Mais do que pensamentos, são imagens vivas de
algo tão terrível! Não sei como elas chegam até mim e não consigo me livrar
delas. Dormindo e até mesmo acordado, elas me perseguem.
-Mas que imagens são essas,
filho?
-Imagine, mestre, sonho que estou
matando uma pessoa. Eu nunca matei ninguém! Vejo a cena do crime com todos os
detalhes.
O jovem terminou sua história em
soluços. O mestre colocou a mão no ombro dele para acalmá-lo. Depois que
Raghvir se acalmou...
-O que você comeu nesses últimos
dias? – perguntou o mestre
-O mesmo de sempre – respondeu o
jovem. Mas creio que eles tenham trocado de cozinheiro, a comida parece um
pouco mais gostosa que antes.
O mestre, deixando Raghvir, foi
conversar com o guarda:
-Quem cozinha para os presos?
O guarda sorriu:
-Escolhemos um dos prisioneiros,
um excelente cozinheiro. Está aqui porque matou uma pessoa. E contou com detalhes
como o crime aconteceu.
Exatamente como a cena que
Raghvir tinha visto com os olhos da mente. O mestre sugeriu suavemente:
-Olhe, Raghvir é muito sensível,
é um excelente rapaz. Você não pode conseguir uma outra pessoa para fazer sua
comida?
Assim fizeram. E Raghvir terminou
seus dias em paz. ”
Essa história ilustra que o
alimento que consumimos, assim como o seu “modo de preparo”, pode ter
consequências inimagináveis, isso sem levar em conta o processo produtivo do
mesmo (industrializado, irradiado, envenenado, etc.). A atenção e respeito com
a alimentação deve considerar inclusive o provedor do alimento: o agricultor, e
indo além dele, Deus.
Desde pequena aprendi com minha
mãe a diariamente pedir a benção do Senhor ao alimento que como. Mais tarde, com
alguns mestres, aprendi a oferecer a Deus aquilo
que Lhe agrada e me alimentar de Seus restos (prasada). Quem se importa
e valoriza o que se alimenta deve ficar atento, pois muitas vezes as angustias
e ansiedades do dia-a-dia podem ser apenas reflexo daquilo que ingerimos.
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