A sete anos atrás minha vida mudou
Trouxe até mim um brilho a mais, que já me acompanhava
Despertou parte de minha consciência, ainda adormecida
Uma flor se abriu em mim de maneira tão surpreendente
E a partir daquela primavera,
pude compreender a missão de minha natureza
Interligada com a fabulosa magia da nossa Mãe Natureza.
Sarah no Timbó - Botucatu
Como as crianças mudam nossa percepção ambiental?
Por Reinaldo Canto
* Reinaldo Canto é jornalista, ex-Diretor de Comunicação do Greenpeace e ex-Coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. BLOG – cantodasustentabilidade.zip.net
É interessante notar como acontecimentos inusitados imprimem em nossa vida constantes transformações, moldando nossos pensamentos e nossas ideias. A chegada de um ser especial faz tudo mudar, ou melhor, trás novos sentidos para muitas das mesmas questões.
A preocupação com a preservação ambiental, com a exaustão dos recursos naturais e com a perda da biodiversidade sempre foram encaradas, sem levar em conta a finitude da minha própria vida. A indignação com o nonsense pela forma como o ser humano tem lidado com o nosso sofrido planeta, já era motivo suficiente para fazer parte da batalha por corações e mentes em busca dessa difícil convivência entre o homem e a natureza.
Aí chega a paternidade e a visão se amplifica e ganha novos horizontes e contornos. Novas velhas perguntas passam a receber um olhar ainda mais crítico e atento: Minha filha vai crescer num planeta mais triste, com mais fome, guerras e destruição? O mundo que conhecemos hoje será muito diferente e pior de se viver daqui há 20, 30, 40 anos?
São perguntas que vêem seguidas de um arrepio na espinha ao imaginar para minha filha, que ainda não completou dois anos de idade, uma herança bastante amarga.. Fatos não faltam para fazer esse tipo de afirmação. Escassez de água e de produção de alimentos não são visões de catastrofistas de plantão, mas a pura realidade com sinais bastante claros para nenhum cartesiano colocar dúvida.
Das atuais para as próximas gerações
A esperança reside na expectativa de que, se soubermos orientar e educar as nossas crianças e jovens para frear o consumo e o desperdício desenfreado, além de respeitar as outras criaturas que habitam o planeta, estaremos contribuindo para formar as novas gerações com valores muito mais positivos em prol da sustentabilidade.. Agora, a tarefa não é nada fácil. Começando pela simples observação de que temos feito muito pouco para mudar essa realidade.
A nossa geração já tem elementos e informação suficientes sobre as graves conseqüências que a sociedade de consumo, ávida por energia e recursos naturais, vem causando notadamente nos últimos anos. Mesmo assim continua a consumir muito mais do que o planeta consegue repor. Nossos lixões e aterros sanitários, principalmente em grandes capitais brasileiras como São Paulo e Rio de Janeiro, entraram em colapso, como já alertou o jornalista Washington Novaes, em seus artigos no jornal O Estado de São Paulo. E, muitos desses materiais, ou melhor, pelo menos 30% de tudo o que vai abarrotar esses lixões e aterros sanitários são perfeitamente reaproveitáveis ou recicláveis e poderiam ter um destino mais nobre e reduzir os impactos ambientais causados pelas cadeias produtivas e seus consequentes descartes.
Recentemente, o escritor uruguaio Eduardo Galeano escreveu um artigo indignado contra a cultura do descartável. Galeano lembrou a sua infância e a utilização quase total de todo tipo de material. No Uruguai de 50 anos atrás, tudo era reaproveitado e até mesmo transformado em brinquedos como tampas e latas. Desperdício de alimentos, então, nem pensar. Cascas e restos de alimentos viravam doces, compotas deliciosas, o que aliás não diferencia muito das antigas estórias de muitas famílias brasileiras.
Não é que não existam mudanças ou novas atitudes em busca de um mundo mais sustentável. Aqui e ali surgem projetos dignos de nota: projetos de reciclagem, de redução de gastos de energia, de reaproveitamento de água e por aí afora. Mas convenhamos que diante do comportamento da maioria, é caminhar a passos de tartaruga, enquanto os efeitos do aquecimento global, da perda de florestas, da contaminação da água, correm a jato. Todos nós, uns mais outros menos consumimos mais do que das nossas reais necessidades e as possíveis exceções só confirmam a regra.
É exatamente aí que quero chegar: que lições estamos passando para as futuras gerações? E quais as contribuições que podemos dar aos nossos filhos?
Com certeza, o primeiro passo é ampliar nossas ações. Pensar nos 3 Rs - acrescidos de um R inicial proposto pelo Instituto Akatu pelo Consumo Consciente (Repensar; Reduzir; Reutilizar e Reciclar. Depois colocar em prática e viver uma vida mais simples e saudável.
No caso das crianças, trocar o material, ou seja, mais uma boneca, ou um novo carrinho por mais afeto e compartilhamento de momentos em família, como um passeio ao ar livre, por exemplo. Os terapeutas são unânimes em afirmar que o afeto é mais importante que o material e o contato com a natureza é a melhor maneira de fazer com que as crianças a admirem e respeitem.
Se elas vão receber um planeta mais caótico para se viver, nós temos no mínimo, o dever de orientá-las desde os seus primeiros passos. E isso, é claro, não é responsabilidade apenas dos pais, mas da escola, dos governos e também das empresas que precisam fazer a sua parte em prol de um mundo melhor.
A preocupação com a preservação ambiental, com a exaustão dos recursos naturais e com a perda da biodiversidade sempre foram encaradas, sem levar em conta a finitude da minha própria vida. A indignação com o nonsense pela forma como o ser humano tem lidado com o nosso sofrido planeta, já era motivo suficiente para fazer parte da batalha por corações e mentes em busca dessa difícil convivência entre o homem e a natureza.
Aí chega a paternidade e a visão se amplifica e ganha novos horizontes e contornos. Novas velhas perguntas passam a receber um olhar ainda mais crítico e atento: Minha filha vai crescer num planeta mais triste, com mais fome, guerras e destruição? O mundo que conhecemos hoje será muito diferente e pior de se viver daqui há 20, 30, 40 anos?
São perguntas que vêem seguidas de um arrepio na espinha ao imaginar para minha filha, que ainda não completou dois anos de idade, uma herança bastante amarga.. Fatos não faltam para fazer esse tipo de afirmação. Escassez de água e de produção de alimentos não são visões de catastrofistas de plantão, mas a pura realidade com sinais bastante claros para nenhum cartesiano colocar dúvida.
Das atuais para as próximas gerações
A esperança reside na expectativa de que, se soubermos orientar e educar as nossas crianças e jovens para frear o consumo e o desperdício desenfreado, além de respeitar as outras criaturas que habitam o planeta, estaremos contribuindo para formar as novas gerações com valores muito mais positivos em prol da sustentabilidade.. Agora, a tarefa não é nada fácil. Começando pela simples observação de que temos feito muito pouco para mudar essa realidade.
A nossa geração já tem elementos e informação suficientes sobre as graves conseqüências que a sociedade de consumo, ávida por energia e recursos naturais, vem causando notadamente nos últimos anos. Mesmo assim continua a consumir muito mais do que o planeta consegue repor. Nossos lixões e aterros sanitários, principalmente em grandes capitais brasileiras como São Paulo e Rio de Janeiro, entraram em colapso, como já alertou o jornalista Washington Novaes, em seus artigos no jornal O Estado de São Paulo. E, muitos desses materiais, ou melhor, pelo menos 30% de tudo o que vai abarrotar esses lixões e aterros sanitários são perfeitamente reaproveitáveis ou recicláveis e poderiam ter um destino mais nobre e reduzir os impactos ambientais causados pelas cadeias produtivas e seus consequentes descartes.
Recentemente, o escritor uruguaio Eduardo Galeano escreveu um artigo indignado contra a cultura do descartável. Galeano lembrou a sua infância e a utilização quase total de todo tipo de material. No Uruguai de 50 anos atrás, tudo era reaproveitado e até mesmo transformado em brinquedos como tampas e latas. Desperdício de alimentos, então, nem pensar. Cascas e restos de alimentos viravam doces, compotas deliciosas, o que aliás não diferencia muito das antigas estórias de muitas famílias brasileiras.
Não é que não existam mudanças ou novas atitudes em busca de um mundo mais sustentável. Aqui e ali surgem projetos dignos de nota: projetos de reciclagem, de redução de gastos de energia, de reaproveitamento de água e por aí afora. Mas convenhamos que diante do comportamento da maioria, é caminhar a passos de tartaruga, enquanto os efeitos do aquecimento global, da perda de florestas, da contaminação da água, correm a jato. Todos nós, uns mais outros menos consumimos mais do que das nossas reais necessidades e as possíveis exceções só confirmam a regra.
É exatamente aí que quero chegar: que lições estamos passando para as futuras gerações? E quais as contribuições que podemos dar aos nossos filhos?
Com certeza, o primeiro passo é ampliar nossas ações. Pensar nos 3 Rs - acrescidos de um R inicial proposto pelo Instituto Akatu pelo Consumo Consciente (Repensar; Reduzir; Reutilizar e Reciclar. Depois colocar em prática e viver uma vida mais simples e saudável.
No caso das crianças, trocar o material, ou seja, mais uma boneca, ou um novo carrinho por mais afeto e compartilhamento de momentos em família, como um passeio ao ar livre, por exemplo. Os terapeutas são unânimes em afirmar que o afeto é mais importante que o material e o contato com a natureza é a melhor maneira de fazer com que as crianças a admirem e respeitem.
Se elas vão receber um planeta mais caótico para se viver, nós temos no mínimo, o dever de orientá-las desde os seus primeiros passos. E isso, é claro, não é responsabilidade apenas dos pais, mas da escola, dos governos e também das empresas que precisam fazer a sua parte em prol de um mundo melhor.
Bombardeio publicitário
Se a vida já não parece fácil, a nossa tarefa, como pais, fica ainda mais difícil e complicada quando assistimos pasmos, a publicidade insana voltada para as crianças. São anúncios na televisão, outdoors e vitrines de supermercados que se utilizam de todos os recursos para atrair os pequenos. São brinquedos e alimentos muito atraentes na sua apresentação e pouco saudáveis em muitos sentidos, seja para o planeta, como também para a saúde das crianças. É o caso de brindes associados a alimentos industrializados e fast-foods pouco nutritivos e muito calóricos responsáveis pela incidência da obesidade infantil.
Organizações de defesa do consumidor, como o IDEC e o Instituto Alana, há tempos lutam contra a publicidade infantil que, aliás, já é proibida em muitos países desenvolvidos. Em recente entrevista, a coordenadora de educação e pesquisa do Instituto Alana, Laís Pereira, afirmou que crianças até os 12 anos ainda não formaram um pensamento crítico sendo presas fáceis da publicidade irresponsável. Outra informação da pesquisadora, que é também bastante preocupante para pais e educadores, se refere às crianças de até quatro anos de idade. Segundo ela, nessa faixa etária, a criança não distingue a diferença entre publicidade e conteúdo de um programa.
As agências de propaganda e as indústrias responsáveis por esses produtos costumam alegar que quaisquer proibições aos anúncios constituem restrições a liberdade de expressão e de informação. Não creio que isso faça sentido. Antes de mais nada essas bem vindas restrições viriam ao encontro do que estabelece o Código de Defesa do Consumidor e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Instrumentos do mais alto nível que vem contribuindo e muito para o aprimoramento da democracia e da cidadania em nosso país e proteger os direitos mais elementares da nossa sociedade e das nossas crianças.
Esses são apenas alguns exemplos dos enormes desafios pelos quais nós pais temos que lutar. E é evidente que tais lutas vão muito além de nossas atitudes pessoais. É preciso agir também coletivamente ao participar e enfrentar forças que, muitas vezes, tem como interesse apenas os ganhos imediatos e como resultado final, enormes prejuízos sociais. O futuro dos nossos filhos é uma boa razão para manter a espinha ereta e o olhar firme no horizonte. As crianças merecem essa chance.
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