sábado, novembro 08, 2008

Horta na Apae-Valinhos


Quem é a nossa Horta?

“Uma horta é uma festa para os cinco sentidos. Boa de cheirar, ver, ouvir, tocar e comer. É coisa mágica, erótica, o cio da terra provocando o cio dos homens.” (ALVES, R.;2006)


Inicio com a inspiração de Ruben Alves. Em um de seus textos sobre “a Horta”, ele traz poesia e arte aos leitores. Amplia nossa interpretação. A horta ganha uma dinâmica própria, mergulhada com suas forças naturais. Tanto a explorar, tanto a aprender, tanto a viver. É a natureza comandando o ritmo, em uma transição para a Agroecologia. A Apae de Valinhos, a partir de março de 2008 reiniciou o projeto Horta, e compartilhamos aqui um pouco dos frutos colhidos por nós.

As plantas crescem, dão flores, dão frutos, dão sementes, as sementes caem. Os pássaros chegam à procura de galhos para seus ninhos, diversas pupas aguardam a metamorfose final da borboleta, pulgões, cochonilhas, grilos e minhocas. As plantas espontâneas, de todos os tipos; beldroega, picão, caruru, tiririca! As chuvas? A seca? O sol e o vento? As cores, os sons, os cheiros, o tato e o sabor.

Os canteiros, também estão sempre em movimento. Ora com plantas vivas, verdes; ora com cobertura morta, descansando a terra. A terra também precisa descansar. Precisamos de esterco, adubo, adubos-verdes, comida, nutrientes... Nós temos que ajuda-la a se re-equilibrar, para só assim ela poder produzir.

Alimenta-la, oferecer água, limpar, arrumar, organizar. Cada plantinha sendo entendida á sua maneira, esperando o tempo em que ela poderá ser colhida e oferecida a nós, como alimento.

E quem é o grande transformador, a grande estrela a ser trabalhada e entendida é o solo. O solo é a base da agricultura. Além de dar sustentação às raízes, também fornece água, ar e nutrientes indispensáveis para o desenvolvimento das plantas.

O chão da nossa horta começou seco, compactado. Cheio de plantinhas que comumente chamamos de “mato” ou plantas daninhas. E vieram sementes para tentar iniciar o processo de descompactação. Terra dura, sem ar. Em um canto da horta, areia e tiririca; em outra parte, destaque para dois canteiros suspensos, com terra mole, escura, fofa.

E com a benção da água, a germinação começa. Alguns girassóis, crotalária, feijão de porco, nabo forrageiro e muitos tremoços vieram nos dar boas vindas! Depois vieram algumas alfaces, cebolinhas, salsinhas e beterrabas (da pré-oficina!). Em uma visita ao Ceasa - Campinas trouxemos flores e plantas medicinais para alegrar e vivificar nosso espaço. Agora já temos cenouras, beterrabas e quiabos semeados, raízes e frutos que acumulam toda a força da terra.

Colhemos sementes de feijão da cerca, de erva-doce, debulhamos vários tipos de sementes, reaproveitamos mudas do jardim que iam para o lixo. Estabelecemos um (pequeno) canal com a cozinha, deixando produtos, em troca das sacolinhas que usamos para as vendas.

A segunda inspiração vem de Antonio Cândido, que dá o peso e o sabor do alimento, dizendo: “A alimentação é o primeiro e mais importante mediador entre homem e natureza, onde ambos aparecem numa “solidariedade indissolúvel” e necessária à transformação do meio, num “projeto humano”(Candido, 1987).

Temos muito trabalho a fazer. Muito chão para ser limpo, pela sujeira de nossas botas cheias de terra. A primavera ainda se estenderá até 21 de dezembro, e as chuvas só tenderão a aumentar. E, na horta, sempre é tempo de plantar e colher.

E, somando a esses ingredientes citados, temos os protagonistas. Quem cuida e mantém viva toda a biodiversidade existente em nossa bela horta: o agricultor, a mulher do campo, o jardineiro, a horticultora. Todas as pessoas que sentem alguma atração pelas plantas, e se conduzem pela força da natureza. O trabalho com a terra, dignifica e expande o ser humano.

A Apae Valinhos vem abençoando a natureza, acreditando que uma horta é um bom lugar para começar. E pra continuar.

Vivenciamos um processo de transição Agroecológica, isto é, um processo gradual de mudança, que ocorre através do tempo, nas formas de manejo na agricultura, e tem como meta a passagem de um modelo agroquímico de produção à uma agricultura que incorpore princípios e tecnologias de base ecológica. Por se tratar de um processo social, dependendo de intervenção humana, a transição agroecológica implica não somente na busca de uma maior racionalização econômico-produtiva, mas também numa mudança nas atitudes e valores dos atores sociais em relação ao manejo e conservação dos recursos naturais.

A horta é um refugio natural, e quanto mais quisermos vivê-la, mais estaremos contribuindo para o serviço ao outro, e à contemplação de nossos próprios sentidos.

07/10/2008

Lisa Tassi – Agrônoma

lisa_tassi@hotmail.com

Luiz - Agricultor

Monitores da Horta

Apae- Valinhos


Referências citadas:

CANDIDO, A. Parceiros do Rio Bonito, Editora 34, 1964.

ALVES, R. Horta, O quarto Mistério. Papirus, 1995. texto extraído http://www.rubemalves.com.br/ahorta.htm

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